
Nem o ouro nem a platina figuram entre os materiais mais caros do planeta. De facto, comparados com as substâncias que compõem a lista recentemente divulgada pela BBC Science Focus, os metais preciosos mais comuns são, afinal, “baratos”.
Em destaque está a antimatéria, cujo custo é tão elevado que desafia até a imaginação: 54 biliões de euros por grama. Mas não está sozinha. De materiais colhidos no espaço a elementos artificiais altamente radioactivos, a lista é um verdadeiro catálogo da raridade e da ciência de ponta.
A antimatéria é a substância mais cara do mundo, em grande parte devido à sua escassez extrema e complexidade de produção. Foi teorizada pelo físico britânico Paul Dirac em 1928 e detectada pela primeira vez em laboratório em 1932, por Carl Anderson. Quando partículas de antimatéria entram em contacto com matéria, ocorre uma aniquilação mútua, libertando energia pura — o processo mais eficiente de produção de energia conhecido.
Esta propriedade coloca a antimatéria no centro das especulações sobre o futuro da energia e da propulsão espacial, especialmente em contextos de ficção científica como Star Trek, onde alimenta naves espaciais à velocidade warp. No entanto, o custo para produzir até mesmo um nanograma é astronómico, uma vez que exige aceleradores de partículas extremamente caros e condições altamente controladas. O custo estimado são 54 biliões de euros por grama.

strong>Fulerenos endoédricos de azoto: 122 milhões de euros por grama
Criados pela empresa britânica Designer Carbon Materials, em colaboração com a Universidade de Oxford, os fulerenos endoédricos à base de azoto são moléculas esféricas de carbono que aprisionam um átomo de azoto no seu interior. A estrutura, semelhante a uma bola de futebol, permite criar minúsculos relógios atómicos com potencial para revolucionar a navegação por satélite.
Actualmente, os relógios atómicos ocupam o espaço de uma caixa de sapatos, mas com esta tecnologia poderiam ser miniaturizados até caberem num telemóvel. Em 2016, um grama desta substância foi vendido por cerca de 122 milhões de euros.

Califórnio-252: 23 milhões de euros por grama
Este isótopo radioactivo, não encontrado na natureza, foi sintetizado pela primeira vez em 1950 no Laboratório de Radiação da Universidade da Califórnia. O califórnio-252 é uma poderosa fonte de neutrões: um micrograma pode libertar cerca de 139 milhões de neutrões por minuto. Essa propriedade torna-o valioso em contextos como a medicina, onde é utilizado em terapias contra o cancro, e na indústria nuclear, para iniciar reações de fissão.
Apesar da sua radioactividade letal, é comercializado a um preço elevadíssimo — cerca de 23 milhões de euros por grama.

Amostras do asteróide Bennu: 8,7 milhões de euros por grama
A missão OSIRIS-REx da NASA trouxe para a Terra, em Setembro de 2023, 121 gramas de material recolhido da superfície do asteróide Bennu. Estas amostras revelaram conter compostos orgânicos e minerais com água — indícios valiosos sobre a origem da vida na Terra.
Em Janeiro de 2025, cientistas confirmaram que as amostras continham todos os elementos necessários à formação do ADN humano. O custo por grama foi calculado dividindo o orçamento total da missão (cerca de 10 mil milhões de euros) pelo total de amostras devolvidas, resultando num preço de 8,7 milhões de euros por grama. Apesar de inferior às expectativas iniciais, continua a ser uma das substâncias mais caras do mundo.

Diamantes vermelhos: 4,3 milhões de euros por grama
Com menos de 30 exemplares conhecidos em todo o mundo, os diamantes vermelhos são as gemas mais raras do mercado. A maioria provém da agora encerrada mina de Argyle, na Austrália Ocidental. A origem da sua cor continua a ser um mistério: ao contrário de outras gemas coloridas, não possuem impurezas evidentes. Acredita-se que a coloração resulte de distorções na estrutura cristalina que alteram a forma como a luz interage com a pedra.
O maior diamante vermelho conhecido é o Diamante Moussaieff, de 5,11 quilates (1 grama após corte), encontrado no Brasil. Estima-se que valha mais de 4 milhões de euros por grama.

Pedras preciosas: até 440 mil euros por grama
Esmeraldas, rubis e safiras continuam a figurar entre os materiais mais caros, com preços que podem atingir os 440 mil euros por grama. A sua raridade, beleza e importância cultural alimentam uma procura constante por parte de coleccionadores, joalheiros e investidores. As esmeraldas devem a sua cor a traços de crómio e vanádio; os rubis ao crómio; e as safiras à presença de diversos metais.
A painite, uma pedra rara oriunda de Myanmar, também começa a ganhar valor no mercado, sendo avaliada actualmente em cerca de 264 mil euros por grama.

Hélio-3: 8,8 mil euros por grama (com potencial para muito mais)
O hélio-3, um isótopo raro do hélio, tem uma estrutura que o torna ideal para detectar neutrões e ser utilizado em tecnologias avançadas como computadores quânticos e dispositivos supercondutores. É também apontado como combustível ideal para reactores de fusão nuclear.
Embora custe actualmente cerca de 8,8 mil euros por grama, o valor pode subir exponencialmente se se concretizar a sua extracção da superfície lunar, onde se acredita que exista em abundância. Em cenários futuros, o preço por grama poderia alcançar os 3 milhões de euros, dado o seu potencial revolucionário no fornecimento de energia limpa.