POR QUE O DESEMPENHO OPERACIONAL SÓLIDO DA VALE NÃO FAZ AS ACÇÕES DISPARAREM

POR QUE O DESEMPENHO OPERACIONAL SÓLIDO DA VALE NÃO FAZ AS ACÇÕES DISPARAREM

Mesmo com números operacionais sólidos, as acções da Vale (VALE3) começaram esta quarta-feira, 23, em baixa, acompanhando o recuo do minério de ferro em Dalian (-0,61%). Os papéis até ensaiam uma recuperação, na esteira dos ganhos do Ibovespa, mas não deslancham.

Por: Carolina Gama*

Por volta de 12h20, as acções da VALE3 subiam 0,05%, cotadas a R$ 57,54. No mesmo horário, o principal índice da bolsa brasileira avançava 0,92%, aos 135.274,91 pontos.

Na noite anterior, a Vale informou que a produção de minério de ferro no segundo trimestre deste ano aumentou 3,7% em relação ao mesmo período de 2024, alcançando 83,599 milhões de toneladas (Mt). Na comparação com o trimestre anterior, a produção de minério também subiu (+23,6%).

Os preços, no entanto, continuaram em queda. O valor dos finos de minério de ferro praticado pela Vale no período caíram 13,3% entre Abril e Junho em termos anuais, para US$ 85,10 por tonelada. Na comparação trimestral, a baixa foi menor, de 6,3%.

A Vale na visão do mercado

O desempenho da Vale no segundo trimestre — que você pode conferir em detalhes aqui — está a ser bem avaliado.

O BTG Pactual, por exemplo, diz que a produção de minério de ferro no segundo trimestre superou ligeiramente (em 2%) as expectativas do banco, e mostraram uma recuperação sazonal em relação ao primeiro trimestre.

Os analistas avaliam que o movimento coloca a mineradora no caminho certo para cumprir a projecção anual de 325 milhões a 335 milhões de toneladas.

“Os volumes também aumentaram na comparação anual, principalmente impulsionados pelo desempenho mais forte em Brucutu e S11D. Ainda assim, em linha com a estratégia de optimização de portfólio da Vale — favorecendo produtos de médio teor —, os embarques de minério de ferro caíram 3% em relação ao mesmo período do ano passado”, escrevem os analistas Leonardo Correa e Marcelo Arazi.

Sobre os preços praticados no período, o entendimento do BTG é de que foram afectados pelo minério de ferro mais baixo e uma menor contribuição das pelotas.

“No geral, embora vejamos o foco da Vale na mistura de produtos — e a despriorização da produção de pelotas — como a decisão certa num mercado volátil, isso também destaca como as condições de mercado para minérios de alta qualidade permanecem fracas”, diz a dupla de analistas.

O Itaú BBA, por sua vez, destaca o sólido desempenho de volume na divisão de metais básicos.

“Os preços realizados na divisão de metais básicos estavam em linha com as nossas expectativas, enquanto os volumes superaram. A empresa reportou volumes de vendas de cobre mais altos na comparação anual, o que, juntamente com o aumento das receitas de subprodutos, provavelmente impulsionará os resultados na divisão de cobre para o trimestre”, afirma Daniel Sasson.

Para o analista, o segundo trimestre de 2025 da Vale foi marcado pelo acúmulo de estoques e um foco contínuo em produtos de médio teor.

“As vendas totais de minério de ferro ficaram 1% acima das nossas expectativas, mas com uma composição mais fraca devido às menores vendas de pelotas. Os preços dos finos ficaram ligeiramente acima das nossas expectativas, enquanto os preços das pelotas ficaram ligeiramente abaixo”, acrescentou.

Para o Citi, os dados de produção e vendas da Vale referente ao segundo trimestre são sólidos e reforçam o facto de que a mineradora estar no “caminho certo”, segundo os analistas Alexander Hacking, Gabriel Barra e Stefan Weskott, considerando que não houve alterações nas projeções.

O que esperar do balanço da Vale

A Vale apresenta os resultados financeiros do segundo trimestre no próximo dia 31, após o encerramento do mercado, e o relatório operacional é considerado uma prévia do que a mineradora vai apresentar neste dia.

Por isso, o Itaú BBA avalia estar confortável com a estimativa de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de US$ 3,2 bilhões no segundo trimestre de 2025 da Vale.

O BBA manteve a recomendação de compra para os papéis da Vale negociados em Nova York, com preço-alvo de US$ 13.

Já o Citi diz que, com base na produção e nas vendas da Vale entre Abril e Junho, o Ebitda da mineradora deve variar menos de 1% no período. O banco tem recomendação de compra para as acções da Vale em Nova York, com preço-alvo de US$ 12.

Para Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, o relatório operacional da Vale não trouxe grandes surpresas e não deve se traduzir num gatilho para os papéis, especialmente diante do contexto desafiador de consumo de aço na China.

“Por outro lado, os números foram sólidos e ao negociar por 4x ebitda e 8% de dividend yield, já vemos muito pessimismo embutido nos preços”, disse Hungria, acrescentando que a Vale segue no portfólio da série Vacas Leiteiras da Empiricus.

O BTG, por sua vez, se manteve neutro em Vale, com preço-alvo de US$ 11 para 12 meses.

O banco reconhece que as acções da Vale têm apresentado bom desempenho, impulsionadas por notícias positivas, principalmente da China, mas o rali é mais especulativo do que fundamental.

“Dito isso, reconhecemos os desenvolvimentos positivos na microanálise da Vale, como a melhora na entrega da produção/estabilidade do minério de ferro, custos de caixa C1 mais baixos, desenvolvimentos positivos em relação à Samarco e melhorias institucionais. No entanto, optamos por aguardar por maior clareza sobre o ambiente top-down mais amplo antes de realizar quaisquer mudanças significativas”, dizem os analistas Leonardo Correa e Marcelo Arazi.

*Seu Dinheiro