
Como Angola pode transformar crises externas em oportunidades de ouro? Perante a volatilidade global, Angola debate o seu destino económico: pode uma nação forjar um novo futuro a partir das próprias vulnerabilidades que a ameaçam? A resposta, que se desenha em 2026, é um aparente sim.
O crescimento acelera para 4,2% em 2026, num paradoxo revelador: enquanto o petróleo cai para 61 USD, o sector não-petrolífero (4,7%) emerge como o novo motor. Esta transição, simbolizada por projectos como a Mina do Luele, assenta numa disciplina orçamental inegociável, o défice reduz-se para 2,8% e a dívida cai para 45,3%. Esta consolidação não é asfixia, mas a base de credibilidade para financiar o futuro.
O crescimento assenta em quatro alavancas: (i) uma diversificação inteligente (pescas a 8,5%, diamantes a 9,5%); (ii) infra-estruturas conectivas (Aeroporto Dr. António Agostinho Neto, Porto do Caio) que integram Angola nas cadeias globais; (iii) capital humano fortalecido; e (iv) o controlo da inacção que, apesar de ainda alta, segue uma trajectória descendente consistente.
O risco persiste na dependência petrolífera. As receitas caem para 5,5% do PIB, mas esta é simultaneamente a maior oportunidade. Impõe disciplina e acelera a urgência da diversificação. O caminho exige medidas ousadas: um Fundo Soberano dedicado à diversificação, Corredores Logísticos e Títulos Verdes.
Assim, a economia angolana assemelha-se a um ourives perante o ouro bruto. O petróleo é um metal precioso. O seu verdadeiro valor só se revela ao ser fundido e lapidado. As crises externas são o fogo da forja que purifica; a diversificação, as ferramentas que moldam o legado. O produto final não será uma mera matéria-prima, mas uma obra de arte económica, resiliente e capaz de brilhar com luz própria.
*Economia & Mercado