
Empresa australiana dona de projecto de terras raras em Minas Gerais (MG) quer se consolidar como fornecedora desses insumos para países ocidentais, sem uso de tecnologia chinesa.
A mineradora australiana Viridis Mining & Minerals anunciou recentemente que o Projecto Colossus, localizado em Minas Gerais (MG) e rico em reservas de terras raras, recebeu uma carta de interesse para financiamento do Export Development Canada, agência de crédito à exportação do governo canadiano.
Segundo facto relevante publicado pela empresa australiana, o financiamento pode chegar a até US$ 100 milhões e será utilizado para o desenvolvimento do projecto.
O empreendimento passará agora por uma etapa de due diligence, que envolve análises técnicas, financeiras e de crédito detalhadas conduzidas pelo próprio governo do Canadá antes da aprovação formal do financiamento.
“O endosso de uma das mais respeitadas agências de crédito à exportação do mundo tem potencial para fortalecer o papel do projecto na diversificação e segurança das cadeias ocidentais de suprimento de terras raras”, diz a empresa em nota.
O anúncio acontece duas semanas após o projecto ter sido considerado elegível para financiamento da Bpifrance Assurance Export, agência de crédito à exportação do governo francês.
A Bpifrance Assurance Export actua como o braço financeiro do governo da França voltado a apoiar empresas e projectos considerados estratégicos ao país, seja por meio de garantias, empréstimos ou seguros de crédito à exportação.
No caso do Colossus, o projecto foi incluído no programa “Garantie de Prêt Stratégique” (Garantia de Empréstimo Estratégico, em português), que oferece garantia soberana parcial sobre financiamentos bancários de iniciativas classificadas como de interesse nacional e geopolítico para a França e seus parceiros.
O Projecto Colossus, que abriga reservas de argilas iônicas ricas em neodímio, praseodímio, térbio e disprósio, já conta com apoio financeiro do BNDES, formalizado em Julho de 2025 por meio de um plano conjunto de apoio a projectos de minerais estratégicos no Brasil.
O pacote inclui financiamento e linhas de crédito voltadas à pesquisa, inovação e estruturação industrial.
Com o apoio combinado dos governos do Brasil, Canadá e França, a Viridis espera concluir a decisão final de investimento e iniciar as actividades de desenvolvimento do projecto até o terceiro trimestre de 2026.
Centro de pesquisa
Recentemente, a mineradora anunciou a construção de um centro de pesquisa e processamento de terras raras, em Poços de Caldas (MG), sem uso de tecnologia, componentes ou equipamentos chineses.
Os recursos obtidos junto aos governos da França e Canadá devem ser utilizados na fase de construção do projecto, além de custear etapas burocráticas relacionadas às fases de pesquisa e licenciamento ambiental.
O centro ficará localizado no parque industrial de Poços de Caldas, a cerca de 7 quilómetros das concessões minerais da empresa, e servirá como base para a produção experimental de carbonato misto de terras raras, etapa intermediária na cadeia de extracção desses minerais.
O início das operações está previsto para o segundo trimestre de 2026.
A planta, com capacidade para processar 100 quilos por hora de minério bruto, funcionará como uma unidade de demonstração, voltada a validação de parâmetros técnicos, a optimização operacional e a preparação comercial do desenvolvimento de terras raras da empresa.
Outro objectivo do centro é gerar amostras de produto para qualificação de parceiros de offtake, ou seja, empresas que poderão firmar contratos de compra antecipada da produção futura.
O anúncio ocorre em meio à ampliação dos controlos de exportação impostos pela China sobre as terras raras, um grupo de 17 elementos químicos essenciais para a fabricação de turbinas eólicas, veículos eléctricos, chips e equipamentos de defesa.
Pequim domina mais de 80% do processamento global desses minerais e, em 9 de Outubro, ampliou as restrições, exigindo autorização para exportação de qualquer produto que contenha até traços de terras raras. Há três semanas, em acordo com os EUA, os chineses voltaram atrás na decisão.
A medida, no entanto, acendeu alertas em países ocidentais e intensificou a busca por fornecedores alternativos, como o Brasil.
A decisão da Viridis de excluir totalmente insumos e tecnologia da China foi “estratégica”.
Segundo a empresa, o objectivo é evitar riscos de dependência e consolidar o Projecto Colossus, localizado no sul de Minas Gerais, como um fornecedor ocidental dentro da cadeia de minerais críticos.
“Essa abordagem proactiva garante que a Viridis não fique exposta a possíveis atrasos, restrições ou riscos de dependência decorrentes dos novos controlos de exportação, e posiciona o Projecto Colossus como um dos poucos empreendimentos de terras raras alinhados ao ocidente capazes de avançar de forma independente da cadeia de suprimentos chinesa”, diz a empresa.
A empresa informou, em nota, que o licenciamento ambiental é hoje a sua principal prioridade.
O estudo e relatório de impacto ambiental foi apresentado em Janeiro de 2025, e a expectativa é de que a licença prévia seja concedida em breve.
CNN Brasil