MINERAIS CRÍTICOS, TECNOLOGIA E FUTURO: REFLEXÕES DE UM ESPECIALISTA DA AGÊNCIA PARA UM BRASIL SUSTENTÁVEL

MINERAIS CRÍTICOS, TECNOLOGIA E FUTURO: REFLEXÕES DE UM ESPECIALISTA DA AGÊNCIA PARA UM BRASIL SUSTENTÁVEL

Com trabalho premiado, Superintendente de Arrecadação da Agência Nacional de Mineração (ANM) reforça o protagonismo do Brasil e da Agência na integração entre mineração, tecnologia e sustentabilidade.

Por: Marize Torres Magalhães — ASCOM da Agência Nacional de Mineração

Imagine um Brasil que transforma rochas em progresso, tecnologia em sustentabilidade e o que vem do subsolo em energia limpa para o futuro. Parece cena de ficção científica, mas já é realidade. Quem está a ajudar a tornar isso possível são especialistas comprometidos em mostrar que a mineração também pode ser sinónimo de inovação, ciência e responsabilidade ambiental.

Um desses nomes é Alexandre de Cássio Rodrigues, especialista em Recursos Minerais e Superintendente de Arrecadação da Agência Nacional de Mineração. Ele acaba de conquistar o segundo lugar no Prémio Mérito Rondon, promovido pela Anatel, com o artigo Minerais críticos e conectividade digital: desafios e oportunidades para a mitigação das mudanças climáticas.

Servidor de carreira da ANM desde 2006, Alexandre é um dos responsáveis por modernizar a gestão das receitas da mineração no país e liderar projectos que definiram critérios de distribuição dos royalties da mineração aos municípios. E agora, com esse reconhecimento, ajuda a colocar o Brasil e a Agência em posição de destaque num debate global: como unir mineração, tecnologia e sustentabilidade.

A gente conversou com ele sobre o significado desse prémio, o papel dos minerais críticos na transição energética e digital, e como a ANM vem se preparando para um futuro mais verde e mais inteligente.

Ascom ANM – O Prémio Mérito Rondon reconhece trajectórias de destaque em áreas estratégicas para o país. O que esse reconhecimento representa para você e para a actuação da ANM?

Alexandre – Para mim, o Prémio Mérito Rondon representa o reconhecimento de uma trajectória dedicada a aproximar ciência, política pública e sustentabilidade, mostrando que a mineração pode ser parte essencial da solução climática e digital do país. Para a ANM, o prémio simboliza o amadurecimento institucional de uma Agência que tem buscado integrar inovação, governança e responsabilidade socioambiental, consolidando-se como referência nacional na construção de uma agenda mineral comprometida com o desenvolvimento sustentável e a soberania tecnológica do Brasil.

Ascom ANM – Em que medida esse prémio reflecte o esforço institucional em colocar os minerais críticos no centro da agenda de desenvolvimento sustentável?

Alexandre – O prémio reflecte o esforço da ANM em reposicionar os minerais críticos e estratégicos como elemento central do debate em torno da sustentabilidade e inovação. Ele demonstra que a Agência tem um importante papel na articulação das dimensões mineral, digital e ambiental, mostrando que a transição energética e a transformação digital dependem de uma base mineral sólida, responsável e estrategicamente administrada. O reconhecimento reforça a relevância da ANM como instituição que antecipa desafios e fórmula respostas para integrar crescimento económico e preservação ambiental.

Ascom ANM – Quando falamos em minerais críticos e estratégicos, do que exactamente estamos a falar e por que eles se tornaram tão relevantes no cenário global?

Alexandre – Enquanto os minerais críticos expressam vulnerabilidade global, com elevado risco de suprimento devido à concentração de produção em poucos países, os minerais estratégicos reflectem prioridade nacional. Muitos, como o lítio e o níquel, são ao mesmo tempo críticos e estratégicos. Essa interseção ganhou destaque porque tais minerais sustentam tanto a transição energética — baseada em baterias e energias limpas — quanto a transição digital — ancorada em semicondutores, cabos e data centers. Em um contexto de dependência e disputa geopolítica, o Brasil desponta como país-chave pelas suas grandes reservas e por ter uma matriz energética limpa, o que o coloca em posição privilegiada nas cadeias minerais globais.

Ascom ANM – Como o Brasil pode transformar a sua abundância mineral em soberania tecnológica e climática, sem repetir modelos de exploração predatória do passado?

Alexandre – O Brasil pode transformar a sua abundância mineral em soberania tecnológica e climática ao articular uma estratégia integrada que una as políticas mineral, industrial e digital, priorizando a inovação, o processamento interno e a rastreabilidade das cadeias produtivas. É preciso substituir o modelo extractivista pela agregação de valor no território nacional, promovendo pesquisa, tecnologia e circularidade. Assim, o país deixará de ser exportador de insumos primários e passará a ser produtor de conhecimento e de soluções tecnológicas sustentáveis.

Ascom ANM – Quais são hoje os principais desafios para posicionar o país como protagonista na transição energética e digital?

Alexandre – O principal desafio está em transformar o potencial mineral em capacidade tecnológica e industrial, reduzindo a dependência de refino externo e fortalecendo as cadeias de valor nacionais. O Brasil precisa avançar na coordenação institucional e na integração entre políticas públicas, ao mesmo tempo em que garante que a expansão mineral ocorra com transparência, sustentabilidade e inclusão social. O protagonismo do país dependerá da capacidade de equilibrar inovação, eficiência económica e responsabilidade socioambiental.

Ascom ANM – Qual tem sido o papel da ANM nesse movimento de estruturação da agenda dos minerais críticos?

Alexandre – A ANM tem exercido um papel central ao estruturar uma agenda nacional para os minerais críticos e estratégicos, combinando conhecimento técnico, regulação e visão de futuro. Recentemente, a Agência criou a Divisão de Minerais Críticos e Estratégicos, vinculada à Superintendência de Economia Mineral e Geoinformação, com o objectivo de garantir atenção especializada a esse segmento desde a pesquisa até a lavra. Essa divisão é responsável por monitorar políticas públicas, regulamentações e tendências globais, elaborar diagnósticos sobre oferta, demanda e cadeias produtivas, e coordenar projectos voltados ao fortalecimento do sector. A iniciativa consolida o compromisso da ANM com o desenvolvimento sustentável e reforça o papel do Brasil como fornecedor confiável de insumos essenciais à economia verde global, alinhando regulação, ciência e estratégia geoeconómica.

Ascom ANM – Poderia destacar alguma iniciativa, estudo ou parceria que a ANM vem conduzindo nessa área?

Alexandre – O meu estudo foi desenvolvido em parceria com o professor Luiz Antônio Abrantes, da Universidade Federal de Viçosa, que é meu supervisor de pós-doutorado em Administração Pública. Nossa pesquisa visa analisar os impactos económicos, sociais e institucionais da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM). A CFEM é uma relevante fonte de receita para os municípios mineradores e aqueles afectados pela actividade de mineração, que, juntos, recebem 75% do montante arrecadado. Neste contexto, os royalties da mineração assumem papel decisivo e despertam grande expectativa nas regiões em processo de implantação ou expansão de empreendimentos destinados à extracção de minerais críticos.

Ascom ANM – De que forma a Agência pode equilibrar o incentivo à inovação e o compromisso com a sustentabilidade ambiental e social?

Alexandre – A ANM pode equilibrar inovação e sustentabilidade por meio de uma regulação moderna que estimule a agregação de valor e a circularidade produtiva sem abrir mão da responsabilidade ambiental e social. Isso inclui promover a rastreabilidade das cadeias minerais, garantir transparência nos dados e fortalecer a participação das comunidades locais, assegurando que a inovação tecnológica esteja sempre acompanhada de justiça socioambiental e compromisso público.

Ascom ANM – Que aprendizado pessoal leva dessa trajectória?

Alexandre – Levo o aprendizado de que sustentabilidade e inovação são faces de uma mesma transformação. A mineração, quando guiada por ciência, ética e propósito público, pode ser motor de um desenvolvimento que alia eficiência económica, responsabilidade social e equilíbrio ambiental. Essa trajectória reforçou minha convicção de que o verdadeiro avanço ocorre quando o conhecimento técnico se traduz em políticas que geram prosperidade compartilhada.

Ascom ANM – Que mensagem deixaria aos profissionais da ANM e a todos que trabalham para tornar o sector mineral mais sustentável e estratégico para o Brasil?

Alexandre – Minha mensagem é de compromisso e propósito colectivo. Trabalhar na ANM é contribuir para um projecto de país que transforma recursos naturais em desenvolvimento sustentável, inovação e soberania. Cabe a nós assegurar que a mineração brasileira seja um exemplo de como a ciência, a regulação e a responsabilidade social podem caminhar juntas para impulsionar uma transição energética e digital justa — que reduza desigualdades, preserve o meio ambiente e fortaleça o papel do Brasil como líder na economia verde global.

*GOV.BR