
Enquanto elabora seu novo planeamento estratégico a ser anunciado ainda este mês de Dezembro, a mineradora Vale (VALE3) se prepara para atender um salto na demanda por minério de ferro da Índia, que deverá dobrar a produção de aço até o final desta década e início da próxima, disse o CEO da companhia, Gustavo Pimenta, em entrevista à Reuters.
A demanda adicional da Índia e de outros países da Ásia ainda deixaria o volume vendido distante do que a Vale entrega na China, o principal mercado da mineradora, que deverá voltar a ocupar o posto de maior produtora global de minério de ferro em 2025, afirmou o executivo.
Mas a siderurgia indiana deverá absorver um crescimento esperado na produção da mineradora brasileira nos próximos anos, enquanto a produção de aço chinesa deverá se estagnar perto de 1 bilião de toneladas ao ano, com possibilidade de cair um pouco, explicou Pimenta.
“A Índia é um país de 1,6 bilião de pessoas, ultrapassou a China, e tem uma enorme necessidade de investimentos em infra-estrutura, o que deveria chamar bastante aço”, afirmou ele, em uma entrevista na sede da companhia, no Rio de Janeiro.
“Existe um plano de crescimento muito grande (na Índia), deve dobrar a capacidade de produção de aço, que hoje está ao redor de 150 milhões, indo para uns 300 milhões de toneladas, nos próximos cinco a sete anos”, observou, notando que a Vale está de olho nesse movimento que vai impulsionar a demanda por minério de ferro.
Segundo ele, o minério da Vale, com teores dos mais elevados de ferro, casa com o indiano para uma “blendagem”, já que o produto da Índia “tem alguma limitação de qualidade”.
“A Vale traz qualidade para este minério, e consegue ‘blendar’ com o produto indiano. Estamos vendo uma oportunidade muito grande. Vai dobrar a produção de aço, temos oportunidade de crescer bastante”, afirmou.
Ele observou que a Índia deve importar 10 milhões de toneladas de minério de ferro da empresa neste ano, ainda pouco perto da China, que concentra cerca de 60% das vendas da Vale, que deve produzir até cerca de 335 milhões de toneladas da commodity.
Mas ainda assim esses 10 milhões representam um volume importante, considerando que até pouco tempo a importação da Índia era “zero”.
Do lado da China, a Vale avalia que a segunda maior economia do mundo seguirá com uma produção de aço em torno de 1 bilião de toneladas ao ano, que demanda volumes de minério de ferro proporcionais. Mas aquele crescimento do passado terá de ser substituído por outros países.
“A China é o principal produtor de aço e vai seguir sendo, com produção de 1 bilião de toneladas de produção, alcançou a estabilidade. (Mas) não vemos a China a crescer, a China provavelmente vai ficar estável, com algum decréscimo ao longo dos próximos anos”, completou.
Enquanto isso, a Índia está a aumentar a produção de aço a uma taxa de 12% ao ano, disse Pimenta.
A companhia também vê outros países da Ásia a ampliarem a sua demanda. O CEO da Vale projecta vendas em 2025 de 8 milhões de toneladas para o Vietname, país que antes representava uma fatia “substancialmente” baixa nas exportações.
Ainda falando de China, Pimenta afirmou que tem estado a realizar vendas contínuas para a estatal chinesa China Mineral Resources Group (CMRG) desde a sua constituição e já negocia a demanda esperada para 2026.
“A gente tem uma relação muito positiva, construtiva, sempre nesse espírito de ganha-ganha, da gente tentar ofertar o melhor produto com a melhor estrutura de custo possível e atender às demandas desses nossos clientes na China”, afirmou.

VALE DAY
Pimenta afirmou que a Vale está num “momento muito bom do ponto de vista operacional”, após ter registado no terceiro trimestre a maior produção trimestral de minério de ferro desde 2018, com aumento no volume de vendas para o seu principal produto de mais de 5%.
Isso posiciona a companhia para a sua agenda Vale 2030, discutida no dia 2 de Dezembro no evento com investidores que a mineradora realiza anualmente em Nova York, todo final de ano.
Pimenta disse que a empresa ainda está a trabalhar nas metas que serão anunciadas, evitando dar pistas se a expectativa é de revisar para cima as metas de produção, mas citando questões relacionadas à China e à Índia.
Ele comentou que a mineradora prevê detalhar no Vale Day os projectos e iniciativas em curso para aumentar a capacidade de produção de minério de ferro e cobre no Sistema Norte, o principal da empresa.
Enquanto há uma corrida por aquisição de projectos de cobre no mercado, com elevação de preços de activos globais, a Vale vê como sua melhor alternativa o crescimento orgânico com a exploração de um enorme potencial, segundo o executivo.
“Quanto mais a gente pesquisa Carajás, mais animado a gente fica com o potencial de crescimento ali na região; realmente tem um potencial muito grande”, afirmou Pimenta.
“No Vale Day, a ideia é a gente poder mergulhar e dar um conforto para o mercado em relação a esse potencial.”
A empresa tem actualmente planos de investir R$70 biliões até 2030 em um programa chamado Novo Carajás, sendo que um dos projectos prevê o incremento da capacidade de produção em 20 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. Com isso, o Sistema Norte poderia produzir 200 milhões de toneladas.
O projecto +20 Mtpa já alcançou 80% de avanço físico e deve entrar em operação no fim de 2026.
Além dessa iniciativa, Pimenta apontou que parte dos recursos também será empenhada em repor alguma capacidade de minério de ferro, mas que provavelmente o avanço da exploração do cobre será a principal alocação de capital. A empresa hoje prevê dobrar a produção de cobre até 2035.
Pimenta também destacou o potencial para um aumento ainda maior da produção de minério de ferro no Sistema Norte, considerando que a empresa tem uma capacidade para o escoamento de cerca de 230 milhões de toneladas por ano, a partir da sua infra-estrutura de ferrovia e porto.
Em meio aos seus planos de crescimento, a companhia prevê reconquistar a posição de maior mineradora global de minério de ferro já neste ano, mesmo sem considerar a compra de terceiros.
A empresa havia perdido liderança para a australiana Rio Tinto, após o rompimento da sua barragem em Brumadinho (MG), em 2019, o que demandou uma profunda revisão dos projectos da companhia em busca de maior segurança.
ALIENAÇÃO NO NÍQUEL
Fora do Brasil, a Vale avalia a venda da mina de níquel Thompson, no Canadá, diante de interesses que surgiram no mercado, em momento em que os preços do metal são pressionados por uma grande produção na Indonésia, onde a mineradora também tem operações.
“É um activo que a gente tinha dificuldade de enxergar caminhando para o nível de custo que a gente queria”, disse Pimenta sobre a operação Thompson.
“Então a gente está a ver se pode ter um melhor dono para ele, e está exactamente nesse momento”, afirmou.
A mina canadiana produziu perto de 10 mil toneladas em 2024, 6% do total produzido pela Vale no ano passado.
Ele adicionou que a empresa está a avaliar “interesses que surgiram” de potenciais investidores, mas evitou dar detalhes.
Reuters