MAPUTO: NAMAACHA ACOLHE DEBATE NACIONAL SOBRE TRANSFORMAÇÕES COMUNITÁRIAS EM ÁREAS EXTRACTIVAS

MAPUTO: NAMAACHA ACOLHE DEBATE NACIONAL SOBRE TRANSFORMAÇÕES COMUNITÁRIAS EM ÁREAS EXTRACTIVAS

A Escola Campesina de Mafuiane, no distrito de Namaacha, província de Maputo, acolheu esta quinta e sexta-feira, 27 e 28 de Novembro, um acampamento político promovido pela Hikone Moçambique – Associação para o Empoderamento da Mulher.

O encontro reuniu cerca de 100 mulheres camponesas de várias províncias com o objectivo de analisar os impactos da expansão da indústria extractiva e partilhar experiências sobre as mudanças sociais e económicas observadas nas comunidades.

De acordo com um comunicado da organização, a iniciativa, realizada anualmente desde 2019 e que já passou pelas províncias de Cabo Delgado e Tete, visou “ouvir as mulheres directamente afectadas pela exploração intensiva dos recursos naturais, reforçar a capacidade de organização local e promover reflexão crítica sobre as transformações sociais e económicas em curso nos territórios.”

A Hikone assinala que, nas últimas décadas, “o avanço de projectos extractivos tem alterado profundamente as dinâmicas comunitárias, fragilizando a soberania alimentar e agravando desigualdades.”

O encontro decorreu sob o lema “A resistência camponesa é a semente de um novo modelo económico: alternativas, saberes e experiências”, e pretende consolidar um espaço de diálogo e formação, privilegiando a participação de mulheres envolvidas em actividades agrícolas. A organização indica que a iniciativa procura incentivar a partilha de testemunhos, denúncias e propostas sobre alternativas sustentáveis baseadas em práticas agro-ecológicas.

No comunicado, Olga Muthambe, da Direcção da Hikone Moçambique, afirma que “as mulheres desempenham um papel fundamental na defesa da terra e na construção de alternativas sustentáveis”, acrescentando que “as suas vozes continuam frequentemente marginalizadas nos espaços de tomada de decisão.” Segundo a responsável, o acampamento constitui “um momento crucial para fortalecer a nossa luta, valorizar a agro-ecologia e garantir que as nossas demandas sejam ouvidas pelo Governo e pelos espaços de diálogo nacional inclusivo.”

Participaram na actividade mulheres camponesas de Maputo, Gaza, Inhambane, Sofala, Tete e Cabo Delgado, assim como organizações parceiras e movimentos sociais nacionais e internacionais. O evento conta com o apoio da Fundação Friedrich Ebert, da Incomati Filmes E.I Moçambicana e da KPC Media, dos Estados Unidos, bem como de parceiros permanentes, entre eles a Fundação Rosa Luxemburgo, o Programa Aliadas e a Thousand Currents.

O acampamento culminou com a elaboração e leitura pública de uma Carta de Demandas e Alternativas Políticas, documento que, segundo a organização, será posteriormente remetido ao Governo e à Comissão Técnica do Diálogo Nacional Inclusivo.

A iniciativa foi aberta a representantes governamentais locais, organizações da sociedade civil, instituições académicas e parceiros de desenvolvimento, com o intuito de reforçar o diálogo multissectorial em torno de políticas públicas relacionadas com a agricultura familiar, os direitos das mulheres e a gestão sustentável dos recursos naturais.

Diário Económico