UÍGE: FEBRE DO OURO ESTÁ A DIVIDIR A COMUNIDADE, A AMEAÇAR A PRODUÇÃO AGRÍCOLA E A DESTRUIR O MEIO AMBIENTE

UÍGE: FEBRE DO OURO ESTÁ A DIVIDIR A COMUNIDADE, A AMEAÇAR A PRODUÇÃO AGRÍCOLA E A DESTRUIR O MEIO AMBIENTE

Na cidade do Uíge, a exploração de ouro, especialmente a ilegal, atrai mão de obra do campo, levando ao abandono dos trabalhos agrícolas por serem menos rentáveis e mais cansativos.

Segundo apurou o Novo Jornal, nos municípios de Negage, Ambuila, Songo e Vista Alegre, vastas extensões de terra destinadas à produção de alimentos estão a ser ocupadas pela exploração deste minério, o que poderá comprometer gravemente a cadeia de produção agrícola e pôr em risco a subsistência de milhares de famílias nestas regiões.

No mercado informal, os garimpeiros comercializam a grama de ouro a 125 mil kwanzas, situação que faz com que muitos habitantes troquem a actividade agrícola pelo garimpo.

O ouro mais rentável, segundo os garimpeiros, é explorado nos municípios do Songo e Ambuila.

Nestas regiões, onde a disputa pelo ouro é “séria”, os garimpeiros conseguem em menos de duas semanas rendimentos de mais de 20 milhões de kwanzas, “se conseguir encontrar gramas consideráveis”, sublinham.

Segundo informações das autoridades governamentais locais, devido à pobreza no seio das comunidades, os garimpeiros alinciam proprietários das fazendas com elevadas somas monetárias para exploração do mineral, mesmo com as consequências devastadoras para as suas fazendas e rios.

Devido ao seu nível de rentabilidade, o garimpo de ouro seduz adolescentes e jovens em número cada vez maior, afastando-os da escola, daí que esta actividade é vista por muitos como uma oportunidade de sobrevivência económica na província.

O Governo da província do Uíge está preocupado com a situação, exortando as autoridades tradicionais, religiosos e pais a desempenharem um papel activo na reintegração dos alunos no sistema educativo.

O governado provincial do Uíge, José Carvalho da Rocha, denunciou a existência de exploração ilegal de ouro na região.

Aos jornalistas, o dirigente mais alto da província considerou a situação como “gritante”, lamentando as consequências ambientais que a região vai acarretar nos próximos tempos, se não forem tomadas medidas urgentes.

Neste momento, temos essa “febre” no município de Songo e em outras regiões, que considero as mais gritantes, — frisou o governador — que defendeu maior controlo da mobilidade ao longo dos 400 quilômetros de fronteira que o Uíge partilha com a República Democrática do Congo (RDC).

Segundo ele, a actividade mineira ilegal atrai não apenas cidadãos nacionais, mas também estrangeiros provenientes do país vizinho.

Nas zonas de exploração de ouro, as autoridades sanitárias temem a epidemia de cólera, já que a província do Uíge tem enfrentado um surto significativo, com mais de 700 casos registados em Outubro de 2025, o que levou à mobilização das autoridades centrais.

A Polícia Nacional também está preocupada devido a questões como a illegalidade, o contrabando, a imigração ilegal e o envolvimento de crianças e adolescentes nesta actividade.

Em operações recentes foram detidas centenas de pessoas, entre cidadãos nacionais e estrangeiros, e apreendidas quantidades significativas de ouro.

Segundo o porta-voz da Polícia Nacional no Uíge, superintendente-chefe Freitas Zama, ocorreram detenções e expulsões em massa de garimpeiros nas comunas de Kissenge, município do Negage, e de Cambambe, município da Vista Alegre, onde a exploração acontece com muita intensidade.

Apesar das operações de combate à mineração ilegal, segundo a polícia, a tendência dos garimpeiros é de voltar para as áreas após a saída das forças de segurança.

Os garimpeiros expulsos das zonas de exploração acusam algumas figuras de relevo na sociedade, entre eles genérais e governantes, de estarem também envolvidos nesta actividade ilegal.

“Depois de expulsarmos os garimpeiros, vimos estes dirigentes a introduzirem nos locais de exploração os seus elementos protegidos por forças da ordem”, queixam-se os garimpeiros contactados pelo Novo Jornal.