MOÇAMBIQUE: A LUTA PELOS RECURSOS MINERAIS CONTINUA A MATAR EM MOGOVOLAS

MOÇAMBIQUE: A LUTA PELOS RECURSOS MINERAIS CONTINUA A MATAR EM MOGOVOLAS

Em Moçambique, a luta pela exploração dos recursos minerais continua a matar, ferir e gerar danos materiais avultados no distrito de Mogovolas, província de Nampula.

A disputa em Mogovolas envolve garimpeiros nativos, seguranças privados e as forças de defesa. Activistas dizem que os conflitos na região poderão durar muito tempo se o Governo continuar a colocar-se distante do povo, mas próximo das mineradoras.

Na passada sexta-feira, um confronto entre seguranças da Quintos Mineração e garimpeiros terminou com a morte de uma pessoa e o ferimento de outras três, bem como o incêndio de dois veículos da mineradora, relatou Felisberta Joaquim, administradora de Mogovolas, em declarações à estação televisiva STV.

“Temos uma equipa de segurança instalada naquela mineração que, durante a sua rotina, interpelou um grupo de garimpeiros que tentavam invadir a área mineira. Quando os seguranças tentaram dispersá-los, o grupo reagiu”, disse.

“Nesse confronto, os seguranças efectuaram disparos para dispersar o grupo e um dos cidadãos acabou baleado. Em seguida, três seguranças foram agredidos, mas receberam pronto atendimento e foram encaminhados ao centro de saúde”, acrescentou a administradora.

Versões diferentes

Mas as autoridades policiais têm versões diferentes. O chefe das Relações Públicas no comando provincial da polícia em Nampula, Dércio Samuel, disse em recente conferência de imprensa que a polícia registou um caso de desordem pública no povoado de Mavuco.

“Um grupo de garimpeiros, munidos de instrumentos contundentes e perfurantes, dirigiu-se àquela localidade”, disse. “Exerciam a actividade e a polícia, quando se apercebeu dessa acção, aproximou-se e tentou sensibilizar o mesmo grupo. Só que estes, infelizmente, não acataram a orientação de abandonarem o local, onde realizavam o garimpo”.

“Por sua vez, eles reagiram contra a polícia. Arremessaram pedras e desferiram golpes contra três membros da polícia, que se encontram gravemente feridos, e apoderaram-se de uma arma AK-47”, explicou.

Samuel acrescentou que, em resposta à acção violenta dos garimpeiros, a polícia também feriu três deles – mas sem, no entanto, contabilizar óbito. “Esses três que fazem parte dos garimpeiros imediatamente foram neutralizados e encaminhados ao Hospital Central de Nampula”, afirmou.

“Neste momento, estão a ser observados, mas fortemente guarnecidos para que sejam encaminhados à nossa subunidade policial [quando tiverem alta] para que sejam responsabilizados criminalmente”, disse ainda Dércio Samuel.

O ambiente na região, segundo a administradora distrital e a polícia, está calmo e tranquilo, mas Dércio Samuel avisa que a corporação não vai tolerar casos de desordem e continuará a agir.

Outros casos na região

Este não é o primeiro caso na região. No final de Maio último, mais de 300 garimpeiros teriam invadido uma mina no mesmo posto administrativo.

A Associação de Paralegais para Assistência no Apoio do Desenvolvimento Sustentável da Comunidade (APAADEC), uma organização não-governamental moçambicana de defesa das comunidades, dá razão aos garimpeiros.

Sismo Muchaiabande, activista social e presidente da APAADEC, diz que o maior problema é que o Governo está a priorizar estrangeiros na concessão de terras em detrimento dos nativos, usando “critérios obscuros”.

“A acção desses garimpeiros é o resultado da incompetência do Governo, que dá privilégios aos estrangeiros e à elite. Quando falo de estrangeiros, não estou dizendo que sou contra esses, mas sou contra o sistema de corrupção aplicado”, disse.

Muchaiabande diz que estes conflitos estão longe de chegar ao fim. “Este assunto não começa hoje. Se a memória não me trai, entre 2017 e 2018, morreu-se muito em Mogovolas. Em Chalaua, morreu-se muito. No Mavuco, morreu-se muito, porque a polícia foi para lá matar pessoas”, afirmou.

O activista sugere uma negociação entre as comunidades e o Governo.

Fonte: DW