DUAS IRMÃS MINEIRAS PRÉ-HISTÓRICAS DESCOBERTAS EM MINA DE SÍLEX NO KRUMLOV FOREST

DUAS IRMÃS MINEIRAS PRÉ-HISTÓRICAS DESCOBERTAS EM MINA DE SÍLEX NO KRUMLOV FOREST

Achado arqueológico em Morávia do Sul lança luz sobre a vida dura das mulheres mineiras há mais de seis mil anos.

No coração da floresta de Krumlov, em Morávia do Sul (Chéquia), arqueólogos descobriram um dos maiores complexos de mineração de sílex da pré-história europeia. O estudo foi publicado na revista Archaeological and Anthropological Sciences.

A exploração deste recurso essencial para a produção de ferramentas e armas em pedra começou no início do Holoceno e prolongou-se até à Idade do Ferro. Mas entre os vestígios do trabalho árduo dos mineiros, o achado mais marcante foi humano: duas mulheres e um recém-nascido foram encontrados no fundo de um dos poços de extração, datado de cerca de 4300 a 4050 a.C.

Enterradas lado a lado

O Poço n.º 4, situado numa encosta rochosa, revelou dois esqueletos quase completos de mulheres adultas, enterradas a seis e sete metros de profundidade, acompanhadas pelos restos de um cão. Sobre o peito de uma delas repousava um recém-nascido de termo.

As análises antropológicas e genéticas mostraram que as duas mulheres eram provavelmente irmãs. Ambas de estatura baixa — cerca de 1,46 a 1,48 metros —, distinguiam-se pela fragilidade durante a infância, marcada por sinais de doenças febris, deficiências alimentares e interrupções de crescimento visíveis nos ossos e nos dentes.

Curiosamente, na vida adulta, a dieta das duas passou a incluir mais carne do que a média da população da região, mas o ganho nutricional veio acompanhado de trabalho extenuante. Os esqueletos revelam músculos muito desenvolvidos e graves lesões na coluna, compatíveis com o transporte repetido de cargas pesadas e longas jornadas em posição curvada. Uma delas apresentava ainda uma fratura mal consolidada no braço, prova de que continuou a trabalhar mesmo ferida.

Uma vida de esforço e resistência
“Estas mulheres tiveram uma infância difícil e uma vida adulta marcada por trabalho físico extremo”, resume o arqueólogo Pavel Oliva, responsável pelas escavações. As análises isotópicas confirmaram que as duas viveram quase sempre na região do Krumlov Forest, sustentando a hipótese de que participaram diretamente na mineração do sílex — talvez escolhidas por serem mais baixas e conseguirem mover-se nos túneis estreitos.

O recém-nascido encontrado junto a uma delas não era, contudo, filho de nenhuma das mulheres. As análises de ADN mitocondrial revelaram que o bebé pertencia a outra linhagem materna, deixando em aberto o mistério sobre a razão do seu enterro em conjunto com as duas irmãs.

Rostos do passado

Graças à preservação excepcional dos ossos e dentes, foi possível ir além da análise genética básica. Descobriu-se, por exemplo, que uma das mulheres teria olhos verdes ou avelã, enquanto a outra provavelmente tinha olhos azuis. Com base nestes dados, uma equipa de antropólogos criou reconstruções hiper-realistas dos rostos das irmãs em silicone, atualmente expostas no Pavilhão Anthropos do Museu Morávio, em Brno.

Estas esculturas dão rosto às mulheres mineiras da cultura de Lengyel, um povo neolítico que dominava a região há mais de seis mil anos. Ao lado das ferramentas de sílex e dos vestígios das minas, ajudam-nos a imaginar o esforço humano que sustentava a sobrevivência das comunidades pré-históricas.

Um enigma por resolver

Apesar dos avanços, muitas questões permanecem. Porque foram estas duas mulheres — frágeis em infância, mas resistentes na vida adulta — enterradas juntas, com um cão e um recém-nascido que não era delas? Teriam sido vítimas de um acidente de mineração, ou tratou-se de um ritual funerário?

Para já, o estudo confirma apenas uma certeza: mesmo num dos ofícios mais duros da pré-história, as mulheres tiveram um papel ativo e vital. E, graças à ciência moderna, voltam hoje a ter voz e identidade seis mil anos depois.

Fonte: Sapo. 30°