
Exclusivo: Luanda está a disputar a joia mais cobiçada da indústria diamantífera global: a De Beers. Há dois consórcios interessados na empresa, assim como o governo do Botsuana que detém 15 %.
Por: Nilza Rodrigues*
O Estado angolano quer marcar posição no mercado global dos diamantes. Fontes ligadas às negociações confirmaram em exclusivo à Forbes África Lusófona que Angola manifestou a intenção de adquirir cerca de 25% da De Beers, a mais emblemática empresa do setor, actualmente controlada em 85 % pela Anglo American e em 15 % pelo Botswana.
Depois de meses de conversas discretas entre Luanda, Londres e Nova Iorque, a Forbes sabe que foi apresentada à Anglo American e ao governo do Botswana uma proposta clara: Angola quer garantir que a De Beers permanece em mãos alinhadas com a defesa do diamante natural, face à ameaça crescente do diamante sintético, que tem pressionado preços e margens.
Porquê agora? A resposta está na palavra “transição”. A Anglo American anunciou que vai alienar a De Beers até ao final do ano, como parte da sua reestruturação para se concentrar em metais estratégicos. O desinvestimento abriu espaço para uma disputa silenciosa, mas intensa, pelo controlo de uma marca que, mesmo pressionada pelo mercado, continua a ser sinónimo de luxo e poder.
Do outro lado, o Botswana, sócio histórico e actualmente detentor de 15 %, já sinalizou ambições ainda maiores: quer tornar-se o accionista de referência e, se possível, assumir o controlo total da De Beers. Para isso, nomeou o banco de investimento Lazard como assessor financeiro, deixando claro o grau de determinação.
Angola reposiciona-se no mapa
A verdade dos factos é que desde 2022, Angola e a De Beers têm vindo a estreitar relações. Nesse ano, foram assinados dois contratos de investimento para exploração diamantífera em solo angolano. Em 2025, esta aproximação deu frutos com a descoberta de um novo campo de kimberlitos, a primeira descoberta significativa em mais de 30 anos no país. Localizado na bacia da Lunda Norte, o achado reforça o potencial geológico e dá um argumento adicional à estratégia angolana: se a De Beers quer crescer em África, Angola é incontornável.

Diamantes naturais vs. sintéticos: uma luta de valor
Por trás das movimentações estratégicas, está uma guerra silenciosa: a ascensão dos diamantes sintéticos, mais baratos, sustentáveis e cada vez mais populares entre consumidores jovens.
O impacto é brutal – os preços dos diamantes naturais caíram até 15 % em 2024, obrigando as empresas a reverem operações e estratégias de marketing.
Para Angola, esta é uma questão existencial. O país é o quarto maior produtor mundial de diamantes e vê no diamante natural não apenas uma commodity, mas um activo estratégico para as receitas do Estado e para a imagem internacional. A mensagem de Luanda é clara.
Botswana na corrida
Enquanto Angola se posiciona, o Botswana joga com um trunfo: o peso da história. O país construiu uma parceria de décadas com a De Beers a través da joint venture Debswana, responsável por algumas das minas mais valiosas do mundo, como Jwaneng.
Os diamantes representam cerca de um terço do PIB do país e 80 % das exportações, ou seja, para Gaborone, controlar a De Beers não é apenas negócio, é soberania.
Ainda em Julho deste ano, o ministro dos Recursos Minerais do Botswana declarou sem rodeios: “Queremos um papel dominante na De Beers”. O governo já aumentou a sua quota na comercialização das pedras através de um novo acordo que lhe dá até 40% das vendas da Debswana nos próximos 10 anos. Mas assumir o controlo da De Beers exigirá uma capacidade financeira colossal.
Um ícone em reinvenção
* Fundada em 1888, a De Beers é um dos nomes mais icónicos da indústria do luxo. Durante décadas, dominou quase por completo o comércio global de diamantes e criou slogans que moldaram o imaginário do sector como “A diamond is forever”.
Mas os tempos mudaram. Hoje, a empresa enfrenta queda de margens, concorrência sintética e pressão por modelos mais éticos e sustentáveis.
*Jornal O Económico