
Nos estudos iniciais de viabilidade a De Beers chumbou o projecto mineiro de Catoca, mas a Alrosa acreditou e deu corpo ao empreendimento que é hoje a maior mineradora de diamantes de Angola e a quarta do Mundo.
A Sociedade Mineira de Catoca (SMC), situada na província da Lunda-Sul completa 30 anos de existência. A diamantífera russa Alrosa foi a empresa que encorajou a Endiama a prosseguir o projecto, contrariamente a multinacional sul-africana De Beers que defendeu a sua inviabilidade, uma vez que, segundo a diamantífera, as reservas provadas do quimberlito, apenas ditavam a existência não mais que seis milhões de quilates.
A revelação pertence ao presidente do Conselho da Administração da Endiama, José Manuel Ganga Júnior, nesta terça-feira, 26, na abertura da Expo Catoca que decorreu até esta quinta-feira em Luanda, sob o signo “Aqui, onde os diamantes encontram a comunidade”.
Aquele que foi um dos artífices do projecto Catoca, conta que o País não dispunha de quadros, nem experiência em termos de exploração de diamantes, após a época colonial, tendo o Governo decidido contactar a De Beers e a Alrosa, para avançarem propostas para a exploração do quimberlito de Catoca.
“A De Beers apresentou um estudo não atractivo, dizendo que a mina não teria o nível de rentabilidade que seria expectável”, sublinhou Ganga Júnior recordando que, “para a diamantífera apenas seis milhões de quilates seriam economicamente exploráveis e os restantes não, informação que o Governo reteve”.
Inconformada com a situação o Governo recorreu à Alrosa que após novo estudo de viabilidade incentivou a implementação do projecto. Daí o sucesso do projecto Catoca que hoje ombreia com as maiores empresas diamantífera do mundo.
Numa retrospectiva à exploração de diamantes em Angola, primeiro director-geral da Sociedade Mineira de Catoca (SMC) caracterizou-a de antiga, com início em 1912, aliás com maturidade de 110 anos, surgindo há 30 anos a primeira experiência de exploração do quimberlito de Catoca.
Depois da independência nacional, em 1975, a indústria diamantífera teve baixa assinalável, a julgar pela turbulência do momento político, em que a extinta Diamang ainda a explorar na fase de conflito ficou desprovida de condições, operacionais, tornando a empresa completamente deficitária.
A partir dos anos 1990 o Governo angolano decidiu iniciar a exploração de quimberlitos, diamantes detidos pela mina de Cafuca Camazamba, actual Kaixepa, antes mina de Camutue, o quimberlito de Catoca foi descoberto no período colonial de forma bastante incipiente.
Estas descobertas foram feitas em decorrência da exploração de aluviões, essa circunstância em que se descobriram os quimberlitos, designadamente o de Catoca, a Diamang realizou estudos de prospecção e sondagens, na ordem dos 100 metros de profundidade e não havia mais informação.
“O Catoca depois de começar a trabalhar estudou integralmente o quimberlito e hoje temos reservas já até mil metros de profundidade”, vincou o PCA da Endiama.
Para José Manuel Ganga Júnior a indústria mineira de diamantes em Angola ainda é virgem, com muito que fazer e garante a convicção de que se pode fazer outros “Catocas”.
O projecto mineiro Luele é um novo quimberlito em exploração, num universo de 24 empresas mineiras existentes no País. Em fase de prospecção estão em curso mais de 50 projectos, de acordo com o PCA da Endiama.
Em 1992 foi outorgada a licença para exploração do quimberlito de Catoca. Em 1993 se constituiu a Sociedade Mineira de Catoca, com apenas dois sócios, a Endiama e a Al rosa, com participações iguais.
Acto contínuo, por falta de domínio de gestão empresarial, práticas de administração e finanças foi convidada a integrar a sociedade a Odebrecht, que absorveu 10% de cada um dos sócios já existentes, perfazendo 20% das acções.
Nesse sentido foi efectuado um novo estudo de viabilidade da SMC em 1994 com culminou com uma mina piloto, com o processamento e tratamento mineiro de um milhão e 620 mil toneladas/ano, o que iria permitir a recuperação de 800 mil quilates/ano.
Em 1995 passaram a ser criadas as condições logísticas e em 1996 veio a ocorrer a implantação efectiva da mina, com o arranque das operações e o início da recuperação de diamantes em 1997.
O objectivo da mina era apenas produzir 800 mil quilates de diamantes/ano, com o incremento da produção passou a tratar 4 milhões de quilates. Daí iniciou a robustez de Catoca, que depois deu origem a novo estudo de viabilidade e as reservas permitiram a instalação de uma nova central de tratamento, hoje com uma produção de cerca de 6 milhões de quilates.
Note-se que até agora foram recuperados 154 milhões de quilates, realizada uma facturação global de 3,6 mil milhões de dólares e a distribuição de 2 mil milhões de dólares aos accionistas.
Um futuro promissor
O horizonte temporal da mina de Catoca estava previsto até 2035 com escavações a céu aberto. Porém, Catoca dispõe de reservas até mil metros de profundidade, sendo que em 2035 conta atingir 600 metros, o que atira para mais adiante o período de exploração, aliás num horizonte que se estende a 2050.
Daí que ainda é desconhecida a tecnologia a optar, se se continuará a céu aberto ou se vai para a mina subterrânea, mas o desafio de continuidade de Catoca afigura-se a aposta da diamantífera e outras minerações à semelhança que acontece com o Luele, no sentido de aumentar a base reservas de diamantes e quiçá a diversificação de recursos minerais como o ouro.