
Os diamantes rosa, considerados entre as pedras preciosas mais raras e valiosas do mundo, atingem preços extraordinários em leilões e mercados internacionais. A combinação da sua origem geológica específica, a sua extrema escassez e a sua cor fascinante posicionam-nos como um verdadeiro símbolo de luxo.
Por: Mila Alieva*
Um exemplo recente desse fenómeno é o diamante rosa de 10,38 quilates, conhecido como “Maria Teresa”, que foi leiloado por mais de 14 milhões de dólares na Christie’s, em Nova Iorque. Este preço surpreendente não reflectiu apenas a exclusividade da pedra, mas também os complexos processos químicos e geológicos que a tornaram tão única.
A química por trás da cor rosa
A cor rosa dos diamantes, tão desejada por coleccionadores e investidores, não provém de impurezas como o nitrogénio nos diamantes amarelos ou o boro nos diamantes azuis.
Em vez disso, a tonalidade rosa destas pedras preciosas deveu-se a uma distorção na sua estrutura atómica. Este fenómeno ocorreu quando as intensas pressões geológicas a que o diamante foi submetido durante a sua formação alteraram a sua rede cristalina, causando uma deformação na disposição dos átomos de carbono. Esta distorção reduziu a absorção da luz verde, o que fez com que a pedra reflectisse uma luz rosa.
Essa «deformação plástica», como é chamada pelos cientistas, ocorreu a profundidades entre 150 e 200 quilómetros abaixo da superfície terrestre, onde as condições de pressão e temperatura eram extremas. De acordo com especialistas da The Conversation, apenas uma fracção ínfima dos diamantes sofreu essa deformação tão precisa, o que explicava a sua rara aparição e o alto valor que alcançaram.
Mina Argyle: A fonte da raridade
A mina Argyle, localizada no oeste da Austrália, foi durante décadas a principal fonte mundial de diamantes rosa e vermelhos. Esta mina, que fechou as suas portas em 2020 devido ao esgotamento das suas reservas, produziu mais de 90% dos diamantes rosa do mercado global.
A região de Kimberley, onde se encontra Argyle, possuía uma geologia única que contribuiu para a formação destes diamantes coloridos. Segundo especialistas, a actividade tectónica ocorrida há 1,6 mil milhões de anos foi fundamental para a criação das condições necessárias para os defeitos reticulares que produzem as cores rosadas.
Embora a mina Argyle fosse a principal fonte, menos de 0,1% dos diamantes extraídos lá foram classificados como rosa, o que destacou a extrema raridade desses exemplares. Na verdade, os diamantes vermelhos, que se formaram através de um processo ainda mais intenso de deformação, eram considerados os mais raros de todos.

A escassez e o valor dos diamantes rosa
O elevado preço alcançado por pedras como a “María Teresa” reflectiu a escassez de diamantes rosa no mercado. Com o encerramento da mina Argyle, a oferta destas pedras reduziu drasticamente, o que disparou o seu valor. Além disso, a dificuldade em replicar o processo de formação em laboratórios contribuiu para que os diamantes rosa mantivessem o seu estatuto de bens de luxo exclusivos.
O mercado de diamantes rosa foi caracterizado por uma concorrência feroz entre coleccionadores e investidores que buscavam possuir uma dessas raras gemas. Apesar dos avanços na criação de diamantes sintéticos, os naturais continuaram a ser os mais cobiçados.
Os diamantes sintéticos, embora quase indistinguíveis dos naturais a olho nu, carecem da história geológica que torna cada diamante rosa único. A identificação destes diamantes foi feita através de técnicas avançadas como a espectroscopia de infravermelho e a difracção de raios X, que permitiram analisar as características atómicas e diferenciar as pedras naturais das cultivadas em laboratório.
Embora os cientistas tenham conseguido criar diamantes rosa em laboratório, replicando as condições naturais de formação, este processo não foi perfeito. A deformação da estrutura atómica que deu origem à coloração rosa foi muito difícil de reproduzir num ambiente controlado.
Apesar dos avanços nas técnicas de síntese, os diamantes criados em laboratório não possuíam a mesma profundidade de cor e características ópticas dos naturais, o que aumentou a procura por exemplares raros que passaram pelas forças geológicas que só a natureza poderia gerar.

O legado histórico e o fascínio pelo desconhecido
Além da raridade e das condições químicas que tornaram os diamantes rosa tão caros, o seu valor também foi impulsionado pelo mistério que envolveu a sua formação. Ao longo da história, pedras como a “Maria Teresa” foram associadas a figuras históricas como Maria Antonieta, o que acrescentou um valor adicional pela sua proveniência. Embora a atribuição do diamante à rainha não tenha sido confirmada, a ligação com a realeza francesa aumentou o seu apelo.
O fascínio por estes diamantes também foi alimentado pela falta de compreensão completa sobre os processos atómicos responsáveis pela sua coloração. A impossibilidade de reproduzir exactamente as condições geológicas que criaram estes diamantes em laboratório manteve vivo o fascínio pelo seu mistério.
Em suma, os diamantes rosa foram o resultado de uma combinação única de factores geológicos, químicos e geográficos. A interação entre esses factores tornou esses diamantes extremamente raros, o que os transformou em uma das pedras preciosas mais cobiçadas do mercado.
O fenómeno químico que provocou a sua cor, a escassez de fontes naturais, a dificuldade em replicar o processo e a história que acompanhou cada exemplar garantiram que os diamantes rosa continuassem a ser um investimento valioso e um símbolo de luxo.
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