
Com exportações recordes e produção siderúrgica em alta, o mercado global de minério de ferro enfrenta fortes oscilações e incertezas. A China ajusta a sua estratégia enquanto o sector debate o fim do super ciclo e o impacto nos preços futuros.
A China pôs fim ao ciclo mais intenso de valorização do minério de ferro, com os preços em forte queda diante de uma oferta global recorde. O recuo acontece em meio a incertezas sobre o futuro do sector siderúrgico, num cenário internacional de ajustes e expectativas moderadas.
Já em Cingapura, o preço operava a US$ 94,10 no início da manhã, após tocar US$ 93,90 — o menor valor desde 3 de Junho.
Oferta recorde de minério pressiona mercado
Com embarques em alta, a pressão sobre os preços se intensifica.
Apesar do avanço na oferta, a produção de aço segue aquecida.
Dados mostram que o chamado “hot metal” — ferro fundido em altos-fornos — alcançou uma média diária de 2,42 milhões de toneladas até o dia 5. O resultado representa um crescimento de 2,6% frente ao mesmo período de 2024.
Segundo a correctora Hongyuan Futures, as margens de lucro das usinas continuam saudáveis, o que sustenta a produção em níveis elevados.
Ainda assim, o desempenho das importações preocupa. Entre Janeiro e Maio, houve retração de 5,2%, com 486,41 milhões de toneladas adquiridas no total.
Em Maio, a China comprou 98,13 milhões de toneladas — aquém da expectativa de 100 milhões.
Outro indicador em queda são os estoques portuários, que recuaram 2,8% e atingiram 133 milhões de toneladas, menor patamar desde Fevereiro de 2024.

Queda no sector imobiliário e câmbio afectam commodities
Enquanto a indústria mantém fôlego, o sector de construção civil desacelera.
Previsões indicam que os preços de imóveis na China podem cair até 5% em 2025. A perspectiva de desvalorização reduz o apetite por novos empreendimentos, impactando directamente o consumo de aço.
Além disso, o fortalecimento recente do dólar pressiona os preços das commodities cotadas na moeda norte-americana.
Mesmo com a elevação na oferta global, analistas enxergam um cenário menos desequilibrado do que se imaginava.
Na conferência Singapore International Ferrous Week, especialistas revisaram para baixo o excedente previsto de minério de ferro em 2025 — de 50 milhões de toneladas para um intervalo entre 20 e 30 milhões. A revisão ocorreu após surpresas positivas na procura e paralisações causadas por ciclones na Austrália.
A abertura da mina de Simandou, na Guiné, prevista para Novembro, pode adicionar 120 milhões de toneladas por ano à oferta global. No entanto, questões políticas e de infra-estrutura ainda colocam incertezas sobre o cronograma do projecto.
Projeções de preços e impacto sobre o Brasil
Os prognósticos para o restante de 2025 seguem cautelosos.
Para o banco UBS, o preço médio deve ficar em US$ 100 por tonelada, com um piso de US$ 85. Já a plataforma Trading Economics projevta uma cotação de US$ 96,22 ao final do trimestre.
No Brasil, a queda do minério pode ter reflexos importantes.
Com um modelo económico ainda fortemente atrelado à mineração e à exportação de commodities, o país pode sofrer com a redução na arrecadação e na geração de receitas para estados e empresas do sector.
Além disso, o enfraquecimento da procura global por aço pode afectar projectos de infra-estrutura, produção industrial e balança comercial.
Estímulos da China e novo ciclo das commodities
Na tentativa de reaquecer a economia, o governo chinês anunciou em Maio cortes na taxa básica de juros e medidas de injecção de liquidez.
Ainda não está claro se essas acções terão impacto directo sobre o mercado de commodities metálicas.
Estudos do Financial Times apontam que o super ciclo anterior, impulsionado por uma China em rápida urbanização, chegou ao fim.
O próximo ciclo, segundo analistas, será marcado pela transição energética, com foco em metais estratégicos como níquel, cobre e lítio.
O minério de ferro ainda tem espaço para recuperação?
Com a oferta crescente, uma procura oscilante e novos desafios no horizonte, será que o minério de ferro vai se acomodar num novo patamar mais baixo, ou há espaço para uma retorno forte nos próximos trimestres?
Fonte: CPG