
Disputa comercial entre superpotências abre janela de oportunidade para o país entrar na cadeia produtiva destes minerais.
O Brasil tem a segunda maior reserva mundial de terras raras, mas ainda não transforma em valor essa riqueza subterrânea essencial para a fabricação de produtos de alta tecnologia. Com a disputa comercial entre as superpotências, abre-se uma janela de oportunidade para o país entrar na cadeia produtiva destes minerais, hoje controlada pela China. Uma política industrial de incentivo a investimentos na área está em curso para tirar esse atraso. Porém, há muitos desafios, como produzir concentrados a custo competitivo, encontrar compradores e garantir um fluxo contínuo de investimentos.
Terras raras são 17 minerais presentes em quase toda a crosta terrestre, diluídos em minérios cheios de impurezas. Neodímio e praseodímio, por exemplo, viram superímãs que movem carros eléctricos e turbinas eólicas. Térbio e európio fazem brilhar telas de celulares e TVs, e o disprósio eleva a resistência térmica das ligas de turbinas a gás. A separação química de cada elemento é cara e complexa. Quase 90% do mercado é dominado pelos chineses. Neste mês, Pequim impôs novas restrições à exportação de algumas ligas, para manter a sua vantagem estratégica, o que acentuou o risco geopolítico da dependência de importações.
Um consórcio público-privado de 28 empresas e institutos de pesquisa quer mostrar em escala piloto que o Brasil consegue percorrer todo o caminho da mina ao ímã até 2027. Baptizado Magbras, acrônimo de Magneto Brasil,
o projecto conta com R$ 73,3 milhões do programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover). Neste ano, começou a operar em Lagoa Santa (Minas Gerais) uma planta de demonstração para separação de óxidos, fusão de ligas e fabricação de ímãs permanentes – peças que mantêm a magnetização sem consumo de energia, tornando os motores eléctricos, turbinas e discos rígidos mais leves e potentes.
A meta é sair da dependência externa e convencer investidores de que o projecto é viável dos pontos de vista técnico, financeiro e ambiental, diz o coordenador do Centro de Inovação e Tecnologia para Ímãs de Terras Raras do Senai (CIT Senai ITR), André Faria. Ele avalia que a formação de mão de obra especializada será o passaporte do Brasil para escalar a produção nos próximos anos.
“Esse projecto é importante porque vai viabilizar a continuidade dos trabalhos que estavam ameaçados pela decisão chinesa [de impor restrições à exportação de algumas ligas]”, avalia Fernando Landgraf, professor titular da Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo (Poli-USP) e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Terras Raras. Ele adverte que o país precisa responder a três questões centrais: como garantir preço competitivo para o concentrado; como atrair compradores independentes alternativos para o concentrado; e qual a escala industrial para assegurar retorno económico.
Fonte: Valor Económico