
O comércio global de minerais enfrenta um cenário de elevada incerteza, com até 30% das transacções a poderem ser interrompidas na próxima década, resultado directo do realinhamento geopolítico e das tensões comerciais internacionais.
A conclusão é de um novo estudo da Boston Consulting Group (BCG), intitulado “The Mineral Shortage Is a Growing Problem. Hubs Offer a Solution” (A escassez de minerais é um problema crescente. Os hubs oferecem uma solução), que alerta para os riscos crescentes de escassez no sector e propõe soluções para garantir a estabilidade do abastecimento.
Segundo o estudo, a procura por minerais críticos como lítio, níquel, grafite, cobalto e terras raras poderá aumentar até 10 vezes até 2035, atingindo os 750 mil milhões de dólares. Esta pressão sobre os recursos está a ser agravada por restrições comerciais, políticas proteccionistas e pela concentração do processamento em poucos países, nomeadamente a China, responsável por cerca de 60% da capacidade global.
“A crescente necessidade de minerais essenciais exige que empresas e governos adoptem estratégias urgentes para garantirem um abastecimento seguro e sustentável”, afirma Carlos Elavai, Managing Director e Partner da BCG em Lisboa.
“A volatilidade dos mercados, as restrições comerciais e as medidas nacionalistas sobre os recursos evidenciam a necessidade de diversificação e reforço das infra-estruturas de processamento. A criação de polos minerais regionais surge como modelo para mitigar riscos, reduzir custos e garantir resiliência, enquanto permite maior controlo sobre a cadeia de valor, fomenta a inovação tecnológica e fortalece a competitividade a longo prazo.
” O estudo destaca que cerca de 20% do fornecimento total de minerais que o mundo precisará até 2035 ainda não foi identificado. A escassez é agravada por fatores como o esgotamento de minas existentes, a redução da qualidade dos minérios e os longos prazos de desenvolvimento de novos projectos – que podem ultrapassar os 16 anos, prejudicando a sua viabilidade e reduzindo o seu valor em mais de 60%.
Ao mesmo tempo, exigências ambientais e sociais mais rigorosas estão a contribuir para o prolongamento dos processos de licenciamento, travando a resposta à crescente procura. A crescente adopção de medidas nacionalistas e restrições à exportação está a intensificar a concorrência global por minerais estratégicos.
Os esforços de países como os EUA e os membros da União Europeia para diversificar as fontes de abastecimento estão a ser dificultados pela concentração de reservas e infra-estruturas em poucos mercados. Para responder aos desafios, a BCG aponta os hubs minerais regionais como solução eficaz para garantir resiliência, eficiência e estabilidade no abastecimento.
Países como Indonésia, Marrocos e Arábia Saudita estão já a investir em infra-estruturas de processamento com o objectivo de se posicionarem como centros estratégicos neste sector. Estes polos regionais permitem centralizar e transformar minerais provenientes de diferentes locais, assegurando acordos de fornecimento estáveis com utilizadores finais e promovendo um ecossistema de inovação e desenvolvimento sustentável.
Fonte: Executive